Há uma praga pior do que as pragas do Egito. É a praga do fastio. Ela causa decepção, tédio, repugnância, aversão, enfartamento e outras complicações. É melhor ter piolhos no corpo, na casa e no campo do que sentir-se entediado. É preferível enfrentar moscas e rãs por toda parte do que aturar o desgosto provocado pelo excesso de alguma coisa antes fortemente desejada. Não foi sobre o Egito que Deus enviou a praga do fastio. Foi sobre o povo eleito, quando Israel estava acampado no deserto de Parã. Ali os israelitas e os estrangeiros que estavam no meio deles tiveram saudades do Egito, dos peixes que “comiam de graça”, dos pepinos, dos melões, dos alhos e das cebolas. Vítima da terrível doença da memória curta e esquecido de que nada era de graça no Egito, o povo de Israel queixou-se amargamente do pão que de graça descia do céu em quantidade suficiente dia após dia: “Não há mais nada para comer, e a única coisa que vemos é esse maná!” (Nm 11.6, NTLH). Eles queriam outra comida e Deus lhes deu uma enxurrada de carne para comer. Um enorme bando de codornizes invadiu o arraial voando a menos de um metro de altura e foram apanhadas pelo povo numa extensão de trinta quilômetros durante dois dias e uma noite. O que menos “colheu” teve no mínimo mil quilos, o suficiente para encher 2.200 latas de um litro! E o povo comeu aquela carne um dia, dois dias, cinco dias, dez dias, vinte dias, um mês inteiro, até sair pelo nariz, até não agüentar mais, até não poder ouvir falar de carne, muito menos de codornizes. Era a praga do fastio, o castigo do fastio, o tormento do fastio (Nm 11.1-35). Há outros exemplos de fastio na Bíblia. Fastio de ouro e de prata, de possessões e riquezas, de servos e servas, de sabedoria e cultura, de trabalho e realizações, de fama e glória. É o caso do desesperado autor de Eclesiastes, para quem, no auge do fastio, “tudo é vaidade”, “correr atrás do vento” e uma eterna mesmice (Ec 1.1-5, 20). É provável que no último carnaval muitos brasileiros tenham sido atingidos não pela praga do fastio de codornizes, mas pela praga do fastio de sexo. Ou de camisinhas, tendo em vista os 19,5 milhões de preservativos que o governo distribuiu ao povo.
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